Há coisas que me fazem confusão... uma delas foi os pescadores hoje a fazerem greve devido ao preço dos combustiveis, pretendiam provavelmente um subsidio para fazer frente à escalada do petroleo pois entendem que não se pode fazer dinheiro suficiente a pescar com estes custos, mais vale ficar em terra. Poderia dizer que isto era um sinal da nossa cultura, até aproveitar para atacar o velho regime ou a cultura de esquerda que imperou depois do 25 de Abril mas fiquei a saber que os pescadores espanhois (habituados à direita do Aznar) e os franceses (naquela republica socialista) se juntaram aos nossos compatriotas nos queixumes. É pois um problema europeu, eu que às vezes me esforço para encontrar pontos de verdadeira união nestes 27 países finalmente encontrei um no jornal da noite: a falta de cultura de mercado.
O preço do combustível disparou desde Agosto de 2007 e realmente acredito que seja impossível continuar a pescar e manter as mesmas margens de lucro a não ser que... pasme-se... subam o preço do peixe. Será uma solução tão dificil de executar? É que se estes que protestam não o fizeram então aqueles que decidirem fazer-se ao mar ficarão realmente contentes pois poderão aumentar o preço duas vezes: a primeira para cobrir o preço do combustivel e a segunda para se aproveitarem da falta de peixe no mercado devido à falta de pescadores no mar.
Será fácil de compreender que os pescadores não tenham estudado as dinâmicas das curvas da oferta e da procura num mercado livre, mas é para mim dificil entender que não tenham aumentado o preço do peixe antes de correrem para as saias dos governantes a clamar subsidio.
Mas tudo isto fez-me pensar, de barriga já cheia de um belo bife de vaca (que está cada vez mais caro), das razões por detrás da subida de preços dos bens como o petróleo, os cereais e os metais. Dependendo de quem se pergunta há varias respostas.
Quando se pergunta a um economista a resposta será a da procura/oferta. A China consome hoje mais de 10 milhões de barris de petróleo por dia, coisa impensável há uns anos atrás. Nas suas pisadas segue a Índia e outros países em franco desenvolvimento como o Brasil. Há pois um aumento da procura que não tem sido satisfeito pela oferta... os novos postos de petróleo postos em funcionamento (poucos) extraiem pouco mais petróleo do que aqueles entretanto esgotam... há até quem diga que a máxima extracção de petróleo foi já alcançada (peak oil) e portanto o preço do petróleo só pode ser para cima.
Claro que, se perguntarmos a um politico ele esclarece-nos logo que a culpa é de uns malandros de uns especuladores que andam aí pelo mercado.
Nada de pensar que andam por aí gatunos que levam mais dinheiro da gasolina do que a gasolineira através de duas coisas que se chamam ISP e IVA. Esses especuladores andam, imagine-se, a comprar petróleo (como se alguém quisesse isso para alguma coisa) e devido a essa compra os preços sobem. Portanto a solução politica é obvia: vamos impedir esta gente de comprar petróleo e os preços não sobem (tanto). Obviamente que isto trará problemas maiores, sem um mercado liquido que determine o preço os produtores não terão a segurança de hoje em dia e podem vir a diminuir a produção o que pasme-se... aumentará o preço do petróleo. Esperemos que estas mentes iluminadas que se estendem de Lisboa a Bruxelas não tentem recuperar a politica de Nixon nos EUA nos anos 70 em que simplesmente congelou o preço da gasolina por decreto... foi realmente assegurador saber que a gasolina não aumentava de preço de dia para dia, só é pena que quando se tentava encher o depósito não havia gasolineira nenhuma que tivesse o tão desejado liquido.
Há, obviamente, uma dose de especulação no preço do petroleo (como aliás, sempre houve) mas é preciso saber porque é que os especuladores se estão a virar para os bens materiais nos ultimos tempos. Nos anos 20 (a altura da grande depressão) houve um termo que andou na moda que se denominava "corrida à banca". As pessoas começaram a ficar desconfiadas da solvebilidade de certos bancos e decidiram, praticamnte todas ao mesmo tempo, levantarem o seu dinheiro desses bancos. Obviamente os bancos não tinham esse dinheiro (os bancos são apenas obrigados a ter uma fracção do dinheiro em reserva) disponível e não poderam devolver todo o dinheiro às pessoas. Interessa apreender daqui que se não houvesse a corrida à banca o banco continuaria a funcionar normalmente e capaz de fazer as operações do dia a dia... uma crise de confiança no sistema bancário da altura foi o suficiente para destruir uma série de bancos.
Inventou-se então nos EUA a Reserva Federal Americana (FED para abreviar - a congénere do nosso antigo Banco de Portugal e do agora "moderno" Banco Central Europeu). A função da FED é garantir que os bancos são soluveis. Quando houver uma corrida à banca a FED empresta o dinheiro... como é que eles fazem isto? Ligam a máquina de impressão e imprimem notas que cheguem para pagar a toda a gente (hoje em dia não precisam de imprimir nada, vai tudo por via electrónica para as contas bancárias).
Assim, as pessoas ficam asseguradas que o seu dinheiro está seguro e nunca mais se ouviu falar de corridas à banca até a Northern Rock ter tecnicamente falido o ano passado devido à crise de crédito hipotecário. Sendo uma empresa britânica os governantes de sua majestade depressa se chegaram à frente para garantir que os depósitos das pessoas estavam garantidos pelo Banco Central. As pessoas voltaram à sua vida mais descansadas...
Mas houve uns malandos que se chamam "especuladores" que não ficaram descansados. É que esta gente percebe que este dinheiro vai ter que ser "imprimido" a partir do nada e através da baixa da taxa de juro como aconteceu em Inglaterra e nos EUA. Ao contrário dos nossos amigos pescadores estes especuladores percebem a lei da oferta e da procura... sabem que se estão a criar mais libras, dolares ou euros então essas moedas vão valer menos.. se valem menos é melhor comprar tudo já antes que o dinheiro valha zero.
É uma nova corrida à banca, silenciosa e diferente de todas as outras porque os especuladores não perderam a confiança em nenhum banco específico. Perderam a confiança nos bancos centrais. Houve um período de excesso desde os anos 90 com baixas taxas de juro no mundo ocidental.
A globalização gerou poderosas forças deflaccionárias que permitiram que as taxas andassem em valores historicamente baixos (abaixo de 5%... acreditem que as taxas não estão altas agora). Quando as taxas estão baixas há mais dinheiro a ser criado através dos empréstimos que tem de ser aplicado em algum lado... nos anos 90 foi grande parte desse dinheiro investido no mercado accionista gerando a famosa "bolha tecnológica" que rebentou em 2001.
Com a economia em recessão devido ao rebentamento da bolha e após os ataques terroristas em solo americano a politica monetária foi imprimir ainda mais dinheiro. As pessoas não tinham dinheiro então baixa-se os juros. O resultado está há vista... uma bolha no sector da habitação que rebentou em 2007 nos EUA e ameaça rebentar por cá agora (já começou em Espanha)... a resposta da FED foi mais uma vez baixar as taxas de juro... criando ainda mais dinheiro. Há 20 anos que os principais bancos centrais mundiais estão a imprimir dinheiro: de bolha em bolha até ao estoiro final.
Quem anda nos mercados, os tais "especuladores", confiaram sempre nos bancos centrais e nas suas intervenções. Mas há que reconhecer que os resultados não têm sido optimos e dá-se então uma quebra de confiança. Essa quebra de confiança gera uma corrida aos bancos centrais.
Como é que se levanta dinheiro do banco central? Simplesmente gasta-se o dinheiro.
Compra-se petróleo, ouro, prata, arroz, trigo... tudo o que estiver no mercado compra-se... e compra-se depressa porque amanhã vai estar mais caro. Se eu tiver 100 euros hoje posso comprar um barril de petróleo, daqui a dois meses não sei se consigo atestar o depósito. Se não sei há incerteza, se há incerteza não há confiança no valor do euro... se não há confiança no valor de 100 euros é melhor gastar já enquanto o "otário" da gasolineira ainda aceita este papel como moeda de troca.
Os especuladores sempre existiram e sempre foram acusados de manipular os preços tanto para cima como para baixo (curiosamente ninguém se queixou quando os especuladores levaram o petroleo aos 10 dolares por barril). Quando existe um choque de preço desta magnitude em todos os bens ao mesmo tempo não são especulações de curto prazo... é medo... é pânico.
Os politicos antes de apontar o dedo ao mercado deveriam se calhar olhar para as suas politicas de défices expansionistas. Com guerras pagas a prazo, com planos de pensões que serão pagos por pessoas que ainda não nasceram, por subsidios que são pagos com dinheiro que é extraido da economia real ou que é imprimido livremente pelos seus colegas economistas nos bancos centrais. Deveriam saber dizer "mea culpa" e arranjar soluções... podem não resultar todas mas certamente trarão alguma confiança de volta ao mercado e ao valor do dinheiro.
Da maneira que preferem fazer as coisas o melhor é mesmo amanhã encher o congelador de peixe, antes que os pescadores percebam que ele vai aumentar... estando certo que Socrates e Cavaco não se irão esquecer de me culpar pelo aumento do preço da pescada.
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sexta-feira, 30 de maio de 2008
Especuladores...
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4 comentários:
O seu texto peca por falta de informação.
Os pescadores não pretendiam um subsídio, pretendiam que os libertassem de alguma carga fiscal que muito lhes tem pesado nos ombros.
Os pescadores não entendem, os pescadores sabem que não podem mesmo fazer dinheiro suficiente a pescar com estes custos.
Os pescadores têm diversos custos, para além dos combustíveis, a manutenção de barcos e dos veículos de transporte par aos portos, bem como os seguros de ambos os veículos (os seguros dos barcos são bastante mais elevados do que os dos comuns veículos), há ainda os vários impostos e taxas que têm de pagar a tempo e horas e que como outros produtores só recebem o que pagaram a mais passados longos meses,a ssim como a despesa com Técnicos Oficiais de Contas.
Acontece que os pescadores vendem o epscado s 2,3,4 euros o Kg, e a produção tem diminuído de ano para ano, uma vez que não há políticas nacionais de protecção de recursos que sejam eficazes (sãoe scassas e limitam-se a proibições.
O problema é mais ou menos o mesmo apra todos os pescadores da Europa, porém os pescadores portugueses são dos que têm menos apoios à actividade (o estado português não lhes concede apoios, apenas a UE o faz ao nível das embarcaçõess - compra e abate).
Os pescadores não têm «mão» nos preços do peixe, não têm poder para o fazer, limitam-se a por o pescado no mercado. Se o pudessem fazer (aumentar o preço do pescado quando o colocam no emrcado) não estariam em greve.
Não servia de muito os pescadores terem estudado as curvas da oferta e da procura num mercado livre, isso não iria mudar a sua posição de oferta que oferece peixe mas que não tem poder para determinar o seu valor no mercado (posição pura e simples de «price takers»).
Era necessária uma reformulação do mercado pesqueiro para que os pescadores pudessem começar a ter algum poder sobre o preço do epscado. É sobre isso que a UE está a pensar. Os pescadores sozinhos não pdoem operar essa mudança no mercado pesqueiro.
P.s.Os preços do peixe são fixados num leilão em que os pescadores não intervêm. Não intervêm os pescadores mas intervém o estado, por meio de uma empresa pública, a «Docapesca Portos e Lotas S.A». E é cobrada pelo menos uma taxa pelos serviços rpestados pela empresa aos pescadores que, curiosamente, aumentou este ano.
Penso que o que está aqui em causa é a noção de subsidio. Se o Estado dá condições especiais aos pescadores (seja diminuição de impostos, comparticipações nos custos de combustivel, reduções de taxas ou outra coisa qualquer) na realidade está a subsidiar uma industria e a torna-la mais competitiva em relação a outras.
Neste caso especifico poederíamos dizer que está a prejudicar directamente a industria das carnes uma vez que estes não terão apoios nenhuns e continuarão a pagar impostos, taxas e combustiveis (e quaisquer que sejam os custos associados a essas industrias). Há uma desvirtualização do mercado e em vez de o preço subir e as pessoas consumirem menos continuarão a comprar peixe porque ele está artificialmente mais barato (contribuindo para a exaustão dos recursos naturais).
Quanto à forma como o preço é fixado acho que quem se interessa por estes assuntos tem a noção que os distribuidores são quem lucra mais com os produtos (seja peixe, seja fruta, seja carne, etc.) mas o artigo já era extenso e não quis entrar por aí. Mas, mais uma vez, acho curioso que apontem baterias aos governos em vez de fazerem frente às empresas distribuição.
O subsídio é um quantitativos concedido.
Condições especiais ao nível de redução da carga fiscal não são subsídios, não há a concessão de uma quantia por parte do Estado ao operador privado.
Relativamente a políticas de subsídios propriamente ditas, o Estado ao subsidiar não está necessariamente a tornar nada necessariamente mais competitivo. O objectivo é nobre mas a conseuqência pode não o ser. Veja-se a questão da «armadilha da pobreza».
Quanto aos pescadores, ao retirar-se carga fiscal dos seus ombros não se está a prejudicar directamente a industria das carnes, uma vez que o que interessa essencilamente em matéria de lucro são as leis do mercado. Ou seja para carga fiscal diferente o rendimento pode ser igual e vice versa.
Aliás, em qualquer caso particular, é necessário ter em conta as especificidades do mercado antes de se partir para comparaçãoes.
A verdade é que não se pode comparar actualmente a indústria das carnes com a indústria do pescado.
Enquanto que um pescador corre o risco cosntante de sair com o seu barco, gastando litros de combustível, e de não ganhar para o pagamento dos custos, quanto mais obter lucro, uma vez que os recusos sãoe scassos e vivem num habitat vasto sem estarem encarcerados. Um produtor da indústria pecuária, se os animais não forem assolados por uma doença fatal, o que actualmente raramente acontece, poderá contar com determinada margem que à partida pelo menos cobrirá os custos.
Um produtor de pecuária pode matar um porco pequeno para vender, o porco é dele pode fazer o que quiser com ele. Um pescador tem de deitar peixe ao mar porque o peixe é um bem público.
O pescador não pode investir na produçãod e peixes no mar, porque o mar é um recurso público, o industrial d euma pecuário pode investir no alargamento das instalações e na compra de mais animais.
Penso que já referi que o pescador não tem influência sobre o preço do peixe, logo não há uma desvirtualização do mercado caso se baixe a carga fiscal do epscador, uma vez que nada muda.
Aliás, se quer saber, as pessoas podem-se preparar para consumir peixe cada vez mais caro e isso só tem parcialmente a ver com pescadores.
O preço do peixe vai subir nos próximos tempos se o estado não fizer nada pelos recursos marítimos, devido ao aumento da escassez do bem. A política das proibições está «gasta».
Penso que também referi que o sector pesqueiro (assim como o sector agrícola) deviam ser reformulados. E referia-me obviamente, também a empresas distribuição.
«Condições especiais ao nível de redução da carga fiscal não são subsídios, não há a concessão de uma quantia por parte do Estado ao operador privado.»
A perda de receita - quando especialmente direcionada por critérios pre-defenidos - pode ser considerada subsidio.
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