sábado, 15 de novembro de 2008

Inflação ou deflação... talvez reflação?

Por onde quer que se olhe nos principais sites noticiosos a deflação está na ordem do dia. Não é de admirar, as baixas significativas nos mercados accionistas, as falências, os investimentos alavancados que tiveram de ser desfeitos, os pequenos investidores que assustados removeram os seus capitais de fundos, as commodities seguiram também o mesmo caminho com o petróleo, prata, trigo e outros bens a descerem, em alguns casos, mais de 60% desde os máximos no inicio do ano.

Estamos então em deflação clara? No imediato será justo dizer que sim, mas como já aqui referi o maior medo dos governos e bancos centrais sempre foi e sempre será um ambiente deflacionário e não um inflacionário. Enquanto a inflação disparava no inicio do ano os bancos centrais em todo o mundo desciam as suas taxas de juro (com a honrosa excepção do BCE que subiu 0,25% a sua taxa de referência) e assim que surgiu a hipótese de deflação começaram todos a cortar as taxas e a injectar dinheiro nos mercados como se não houvesse amanhã. Até o BCE que demorou tanto tempo para reagir à inflação em menos de um mês cortou a sua taxa de referência em 1% e deixando bem viva no mercado a impressão que tem mais espaço e vontade para continuar a cortar... no que diz respeito aos bancos centrais é uma corrida até ao fundo, o objectivo parece ser chegar a 0% apesar de as taxas de referência já estarem por todo o lado abaixo das taxas de inflação.

Estas medidas de injecções de liquidez e redução de taxas de juro são sempre as primeiras medidas dos bancos centrais. Aliás já em 2000 e 2001 manipularam as taxas de juro o suficiente para levar com que as pessoas se endividassem e estimulassem a economia. As compras de casas maiores que as possibilidades das carteiras dos seus donos não foram um problema apenas dos EUA, apesar do menor mediatismo também a Europa aproveitou a era do "dinheiro grátis" que o BCE permitiu no inicio da década para se endividar em demasia sendo Espanha provavelmente o caso mais mediático na União Europeia. Este dinheiro que as pessoas não tinham foi no entanto direccionado, maioritariamente, para industria de construção durante alguns anos, reduzindo o desemprego e fazendo passar a pressão deflacionista que o estoiro da bolha .com tinha originado... como é repetitivo cada vez que um governo tenta interferir na economia para tentar fazer o que ela não quer (em 2000 obrigando-a a expandir quando era necessário corrigir dos excessos) acabam apenas por deferir o problema para o mandato do governante seguinte, normalmente um problema que entretanto cresceu e se torna mais difícil de corrigir.

E é assim que chegamos a 2008, com o estoiro da bolha do subprime construída em cima da bolha da internet temos uma mega bolha para corrigir. Se uma era deflacionária e ameaçava uma recessão esta ameaça destruir por completo o sistema financeiro e uma depressão. Mais uma vez governantes e bancos centrais não estão dispostos a enfrentar as consequências das politicas seguidas nos ultimos 40 anos e preparam-se para novamente deferir o problema para quem tiver o próximo mandato. Estas tentativas são, obviamente, sempre inflacionistas uma vez que consistem em imprimir notas através da emissão de divida publica e quem sabe mesmo sem emissão de dívida se a isso forem obrigados no futuro. Vamos analisar então as principais medidas que foram tomadas até hoje:

1) Baixa das taxas de juro - Esta medida falhou como se pode ver pelo diferencial, que aumentou bastante no ultimo ano, entre as taxas de referência dos bancos centrais e as taxas interbancárias.

2) Injecções de liquidez - Falharam parcialmente. A liquidez foi usada para tapar os buracos que existiam nos bancos, ou seja, ela foi usada mas não da forma que os governantes pretendiam.

3) Nicolas Sarkozy (Presidente Fracês) ameaçou nacionalizar os bancos que não emprestem dinheiro. Ao repararem que a liquidez não chega aos consumidores a expectativa inflacionista vai-se abaixo. É como imprimir muitas notas novas e os bancos andarem a guardarem-nas debaixo do colchão. Não coloca pressão nos preços para subirem. Se os bancos recomeçarem a emprestar dinheiro então não só esse dinheiro chega às pessoas como através do sistema fraccionário permitirá que se multiplique ainda mais o dinheiro trazendo a desejada inflação.

4) Hank Paulson (Secretário do Tesouro dos EUA) tinha 700 mil milhões de dolares para comprar algumas hipotecas dos bancos mais aflitos e assim ajudar a limpar as suas folhas de balanço. Já se apercebeu que embora isso ajude os bancos a não abrirem falência não significa que os bancos emprestem. Mudou então esta semana o seu plano (depois de já ter gasto 200 mil milhões) para passar a financiar directamente os consumidores. Não tenho os pormenores de como isto vai ser feito mas não é liquido que funcione... nada obriga os consumidores a gastarem esse dinheiro em novos bens causando inflação, podem simplesmente pagar a dívida que têm à banca o que mais uma vez impediria o dinheiro de entrar em circulação.

Vemos então que os passos tomados (todos inflacionistas por natureza) têm sido cada vez mais drasticos e que mesmo assim não funcionaram. Porque continuo eu convicto de um cenário hiperinflacionista nos próximos anos?

Porque os governos não vão simplesmente desistir, haverá mais passos a tomar, mais dinheiro a ser queimado, mais radicalismo nas opções tomadas. A minha convicção de que não permitirão uma nova depressão deflacionista (como têm demonstrados pelos passos tomados) anda de mão dada com o cenário de hiperinflação.

Vamos a ver que medidas novas vão surgir nos próximos tempos, talvez um perdão de dívida generalizado, talvez um repricing de certos bens como o ouro, ou talvez a impressão de mais e mais dinheiro até alguém decidir que é altura de o gastar... a imaginação dos bancos centrais e governantes não tem limites.

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