quarta-feira, 13 de agosto de 2008

As moedas do mundo...

Acompanho, e negoceio, bastante de perto o mercado cambial todos os dias e o mês de Agosto ainda vai a meio e já temos muito para ver. O que mais se fala é obviamente a recuperação fantástica do dollar frente ao euro (e à libra esterlina). Apesar de surpreender muita gente já tinha avisado há alguns meses que o Euro estava em território "bolha".


Mais concretamente, quando o EUR passou a marca dos 1.56 frente ao USD. Com o EUR a este valor chegávamos à conclusão de que a economia europeia era maior do que a economia americana se medissemos o PIB europeu em USD (ou o PIB americano em EUR) o que, diga-se de passagem, qualquer pessoa com senso comum acharia estranho.

Houve também um outro movimento que foi a força do JPY (Yen Japonês), especialmente no dia a seguir a se ter registado uma desacelaração de 0.4% da economia no Japão. O JPY é uma moeda muito peculiar porque há muitos anos que tem uma taxa de juro muito baixa para tentar combater a depressão deflacionária que se instalou na ilha. Um negócio muito comum é os investidores fazerem empréstimos em JPY e depois aplicar esse dinheiro em EUR - como recebem um juro de 4.25% em EUR e pagam apenas 0.5% em JPY acabam por ter um lucro de 3.75% tendo apenas que equacionar o risco da desvalorização cambial ser superior aos 3.75% que ganham nos juros (há até quem faça esses empréstimos em JPY para poder comprar acções ou commodities).

Com o abrandamento económico a espalhar-se pelo globo os investidores começaram a aperceber-se da realidade. E a realidade é que todo o mundo ocidental está embrulhado numa crise financeira com epicentro em Washington mas com várias ramificações em Londres, Bruxelas e até em mercados emergentes.

A recente "correcção" no preço do petróleo e outros bens também dará mais mais margem de manobra aos bancos centrais para que possam baixar as taxas de juro - com estas a descer torna-se maior o risco da desvalorização cambial e o JPY ganha força.

As pessoas comuns não gostam da inflação mas o pior pesadelo que os governadores dos bancos centrais enfrentam não é nem a inflação de curto prazo nem o cenário que se colocava há uns tempos de "estagflação" (crescimento nulo com inflação elevada) - o que estes governadores temem é uma recessão deflacionária. Uma recessão em que desçam o preço das casas, dos índices accionistas e de tudo o resto que os bancos utilizem como colateral para garantir as reservas a que são obrigados.

Se o passado é um guia de referência então os bancos centrais (mesmo a FED americana) estarão todos a preparar-se para cortes nas taxas de juro (sendo que a Europa tem mais por onde cortar que os EUA o que faz com que esta visão desvalorize o EUR). A solução é inflar a moeda o mais possível, criar digitalmente dinheiro ou imprimir e se for necessário envia-lo para casa das pessoas para que o gastem e para que o preço das coisas não desça. Imprimir todo o dinheiro que for necessário para garantir que os colaterais dos bancos não desçam, para que seja encontrado um fundo no imobiliário e nos mercados accionistas.

Inflar, inflar, inflar.

Claro que quando se enviam cheques para as pessoas (como o tax rebate recente nos EUA) nunca se sabe onde elas o vão gastar. Pode ser numa casa, podem investi-lo em acções, podem ir comprar um carro ou (o que era bastante chato) abater a dívida ou até (imagine-se) poupar. O importante é que depois de o banco central criar o dinheiro ele deixa de estar sob o seu controlo e pode resultar em inflação em locais que não ajudam os bancos (como em cereais ou em barris de petróleo) mas com a economia a abrandar os bancos centrais esperam que a queda na procura seja suficiente para dissimular este efeito inflacionista baixando mais as taxas.

Neste cenário a minha previsão é que as próximas valorizações estejam na prata, ouro e Yen japonês.

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