Descobri hoje que tenho, pelo menos, um querido leitor que gosta de heavy metal e que amavelmente partilhou o meu "programa de governo" com alguns colegas que foram criticos (surpresa, não estava nada à espera) de alguns pontos e que surgiram com estas questões:
1) "O imposto do tabaco faz falta porque danifica muito a saúde"
Mais uma vez, porque algumas pessoas têm dificuldade em ler, o exercicio que fiz é meramente contabilistico. Terminar com aqueles 4 ministérios (que são dos mais baratuxos que há) permitiria reduzir o IRS cobrado em 24% ou o IVA em 3% (isto nem é bem assim, a forma como é calculado o IVA permitiria um corte ainda maior mas estou a simplificar), acabar totalmente com o ISP (são menos 33 centimos por litro de gasóleo na bomba) ou, como eu disse, com o IT e o ISV.
Não podem escolher tudo, mas apenas uma das hipóteses. Quanto ao tabaco eu sei que a desculpa por detrás do imposto é os custos de saude acrescidos mas este importo é uma forma muito má de conseguir o efeito desejado. Então num sistema privado de saúde em que cada um tivesse o seu seguro não é lógico que um fumador vai pagar um prémio maior (tem mais probabilidades de ter problemas)? Se assim for, então poderemos concluir que se fizessemos uma coisa dessas o IT podia ser abolido (que é que fazemos agora com um tipo que ande sempre de viagem e compre o seu tabaco sempre no estrangeiro e depois adoece em Portugal?)
Ou seja, sim, posso concordar que enquanto o serviço de saude for publico o IT faça falta. Acho que é uma forma ineficiente de ir buscar os recursos e há formas melhores, mas se não achasse votaria PS ou PSD para poder ficar na mesma não é?
Penso que esta leitura que faço é generalizada, na sondagem ao lado ainda ninguém votou a favor da abolição do IT de entre as 4 probabilidades que este programa permitiria.
2) "Esse Nuno é um atrasado mental porque não dá valor à cultura"
Cada um lê o que quer, em lado nenhum eu disse que não dava valor à cultura, pelo contrário não só dou como pago por ela. Imaginemos que vêm os Metallica a Portugal dar um concerto, independentemente dos gostos de cada um se entendemos que musica é cultura então Metallica é cultura. Quem quer ir ver Metallica paga um bilhete, quem não quer ver não paga... somos todos felizes da vida.
Eu penso que ninguém critica o cenário em cima, é o mercado a funcionar (no sentido em que se os Metallica não venderem bilhetes não voltam cá e se os esgotarem da próxima vez que vierem usam um recinto maior). Agora vem a filarmónica das Caldas (sem ofensa à dita, se é que existe) tocar a Lisboa, tentam vender os bilhetes e não conseguem e o ministério da cultura tem muita pena deles e toca a cobrar impostos para ajudar a filarmónica das Caldas.
Eu não digo que a filarmónica não seja cultura, digo apenas que é cultura que ninguém quis ver em Lisboa (pois se quisessem os bilhetes teriam vendido e não precisavam de subsidio). Ora se ninguém os quer ver porque é que o ministério os subsidia para virem a um local onde ninguém os quer ver (ou existe um número pequeno de pessoas que não estão dispostas a pagar o vencimento e os custos de deslocação dos artistas)?
Porque é que é justo apoiar a filarmónica das Caldas e não os Metallica? Se disserem que é por os outros trabalharem maioritariamente fora de Portugal então a pergunta pode ser porque é que o Felipe la Féria tem de vender bilhetes enquanto outros podem viver de subsidios?
Porque é que alguns actores têm que fazer novelas de que não gostam para comer enquanto outros ficam em salas de teatro vazias a receber subsidios evitando trabalhos de que gostam menos?
É que subsidiar a cultura é isto amigos. E é precisamente o respeito que tenho pela cultura que me faz querer acabar com tal ministério e deixá-la nas mãos de quem percebe muito mais de cultura e arte do que eu: os artistas.
quarta-feira, 9 de setembro de 2009
O programa de governo que devia ir a votos (2)
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3 comentários:
Essa ideia de que os problemas de saúde associados ao fumo pesam na despesa pública está longe de estar demonstrada. Os fumadores vivem menos, logo custam menos em pensões de reforma, que em Portugal são quase sempre despesa pública. Seria preciso comparar a expectativa de anos de vida de fumadores e não fumadores e os custos da assistência na doença de uns e outros e confrontar os dados, sem esquecer que os custos com a doença crescem exponencialmente com a idade; e seria preciso também que quem fizesse o estudo não tivesse parti-pris, porque anda para aí muito combate puritano ao vício travestido de defesa da saúde pública.
Caro Inflacionista,
Como podes reparar (vou-me referir a ti na 1ª pessoa porque isto é um meio informal e "você" é do século passado), sou um dos "críticos" ao teu texto vindo do forum mencionado.
1º) O tabaco não é um bem essencial, aliás, é um bem prejudicial há saúde de toda a gente e não só de quem fuma. O tabaco é uma droga, que mata mais do que qualquer droga leve e que não tem efeitos benéficos nenhuns excepto o alívio da ansiedade/stress por umas horas (ou menos). O tabaco devia ser um prazer, tal como são o vinho e as bebidas espirituais, não devia ser algo que pudesses comprar e abusar de uma forma fácil (já no alcóol há mais quem abuse do que quem se vicie). 3,5€ para mim é ainda muito pouco para se cobrar por uma fonte de prazer "fácil", poluidora e que afecta a saúde de todos. Podiam dizer-me o mesmo dos automóveis, mas esses já são taxados q.b. em relação ao que prejudicam e poluem, até são taxados demais.
Caro JMG, compreendo perfeitamente o seu ponto de vista, e é bem válido, à excepção de que pelo seu discurso, parece que se preocupa mais com que haja menos gastos para a SS com a reforma do que manter a pessoa viva, livre e longe do vício do tabaco.
As ideias do Inflacionista passam muito por economia e por cortar naquilo que são apoios à cultura mas na vida há mais do que isso, há mais por que lutar, há prazeres bem mais benéficos para a saúde de um Estado do que apenas números, números esses que até da educação andam a fazer gato-sapato.
Ao ler alguns posts, parece-me que aqui presam demais o bem-estar individual e esquecem-se do bem-estar social do país, diria que há um sentimento de "egoísmo" e demasiado liberal, tão liberal que apenas se pensam em receitas geradas e dinheiro.
(continua...)
2º) A cultura é um bem essencial a qualquer sociedade. Percebo o ponto de vista comercial, mas a cultura extravasa demais o campo monetário.
Quando se fala em apoios à cultura, fala-se em apoios internos a associações culturais, musicais, companhias de teatro, etc..., que necessitam de existir para a difusão da arte. Não estamos a falar em apoios para ver os Metallica ou apoios aos Metallica até porque não há bandas desta dimensão em PT, é outro "défice" de exportação que temos, há muitos bons artistas, mas devido ao português não dar valor, como é que vamos conseguir vender a nossa arte a quem não a quer ou não lhe dá valor, tal como o Inflacionista gostaria? Quantos artistas a tempo inteiro podemos ter que possamos ver AO VIVO e não só nas telenovelas? São muito poucos os espectáculos que podemos ver (e pagar por eles) em horário das 9h às 18h, é maioritariamente na parte da noite a o fim-de-semana onde a classe trabalhadora portuguesa (que trabalha (a)normalmente mais de 8h por dia onde noutros países não é costume ficarem no local de trabalho mais do que 7h-8h) quer é ficar em casa a descansar e pouco se preocupam em levá-los ou deixá-los participar em eventos deste tipo.
A ideia é criar bases de suporte para serem geradas possibilidades de em Portugal se poderem formar Metallica's ou Muse's ou Queen's ou mais Saramagos, ou Picassos ou Matisses mas é algo que pouco se ouve neste país, nem nunca se deu o valor/importância que merecem, parece que ainda estamos a pagar a conta dos tempos da ditadura.
Se olharmos para o que se passa nos países nórdicos ou mesmo aos EUA, notamos um maior suporte à cultura, seja por subsídios para se gravarem albuns, para se abrirem ateliers, para montar exposições, ou por disponibilização de estruturas e outros benefícios para a sua prática. Não é à toa que os países mais desenvolvidos do mundo (EUA, Finlândia, Noruega, Alemanha, Rússia, Suécia, etc...) têm uma base cultural imensa, vários prémios Nobel, etc...
A China, por exemplo, é um país em que a cultura já é amordaçada e limitada e a consequência é a falta de originalidade que observamos das imensas cópias baratas que provêm da China. Eles não têm produtos originais, limitam-se a ser a fábrica do mundo, sem pensamento totalmente livre, a eles o que lhes interessam são os números, os dólares, os euros...
Fotografia, Pintura, Teatro, Cinema, Música, Literatura. Como é que podemos viver sem isto e sem apoios para a estrutura da arte? Não é para vivermos o "belo" do mundo que cá estamos?
3º) Eu sou uma pessoa de certa forma independente e com ideias dentro de todos os espectros (esquerda, direita, centro, liberais, capitalistas, comunistas, radicais). Tento sempre pensar de forma equilibrada e quando tenho de votar, voto em consciência e não com palas nos olhos (ser militante de um partido está longe de ser uma realidade para mim, no entanto, não me importava um dia de fazer parte de uma lista qualquer de um partido que partilhasse da maioria das minhas ideias, tal como já começo a ver).
Não penso só em mim, penso nos ricos, nos pobres, na classe média, nos cultos, nos incultos, ou seja, tento ter ideias para o bem e o melhor de todos.
Teria muito gosto um dia em discutir contigo, numa conversa normal, de café ou algo mais sério (já que este tipo de resposta "rápida" pode ficar um pouco embrulhada e confusa) todos os meus pontos de vista e quem sabe, até mudá-los se para isso ouver contra-argumentos válidos. Não seria a 1ª vez, nem será a última que isso vai acontecer
PS- A pessoa que partilhou o link lá no forum fez bem e ainda bem que te deste ao trabalho de responder a algumas "críticas".
PS2- Depois de ler o post que me tinhas sido indicado no fórum, li mais alguns posts e até não dei o meu tempo por perdido, pelo contrário, é uma pena que não penses muito para além da visão capitalista do mundo, porque até li alguns pontos de vista muito bons. Agora quanto ao post que gerou estas conversas, detenho a mesma opinião.
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