Parece que as coisas na Grécia andaram muito activas este fim de semana. Começando pelas coisas importantes, morreu uma pessoa vítima de uma bomba que era destinada a um edifício onde são formados funcionários públicos. A ira da população grega já se tinha feito sentir antes contra estabelecimentos bancários mas desta vez dirigiu-se a outro grupo de “privilegiados”.
Enquanto isso, o Telegraph pega num tema que já aqui tinha sido falado anteriormente que é a forma como os gregos jogam à roleta russa, patrocinados pelo BCE.
Greek banks have been key buyers of state debt this year, using it as collateral for cheap loans from the European Central Bank. Simon Ward, of Henderson Global Investors, said ECB loans to Greek banks jumped by €12.5bn to a record €59.8bn in February.
O que isto quer dizer é que toda aquela “procura” que existe por títulos de dívida grega vem de um sítio muito específico: a banca grega. Porque acham que é um bom investimento? Nem por isso, é porque é um investimento que não podem perder. Compreendamos melhor este negócio:
Passo 1: Grécia emite dívida de médio/longo prazo (imaginemos 10 anos) que rende 6% ao ano.
Passo 2: Banco grego compra dívida do Estado.
Passo 3: Banco grego usa a dívida como colateral para o BCE fazer um empréstimo de curto prazo (1 ano).
Passo 4: Banco grego ganha a diferença entre o juro que paga ao BCE e o juro que recebe do Estado.
Dinheiro fácil, até os bichinhos gostam. Quais são os problemas desta abordagem? Bom, primeiro que tudo o problema está no prazo dos empréstimos. A dívida grega é apenas aceite como colateral no BCE hoje devido às medidas anti-crise (normalmente não é aceite colateral com o rating que a dívida grega tem). Seria lógico pensar, já que parece estar tudo tão confiante que o pior da crise financeira já passou, que mais tarde ou mais cedo as medidas anti-crise do BCE irão terminar. Imaginemos que acabavam no final deste ano e que o BCE deixava de aceitar esta dívida como colateral… o que acontece aos bancos gregos que compraram a dívida? Vão precisar de se ir financiar a outro lado… e quem é a alma caridosa que os vai financiar à mesma taxa que faz o BCE? Pois… ninguém. Pelo menos ninguém abaixo dos 6% que paga a dívida grega, ou seja, o feitiço vira-se contra o feiticeiro e o esquema de dinheiro fácil torna-se numa receita para a insolvência (pagando mais pelo empréstimo do que recebem pelo que se empresta).
Como é fácil de ver este jogo suicida só tem jogadores por duas possíveis razões:
1) Os bancos gregos entendem que o BCE nunca mais vai repor as regras de financiamento e que a dívida grega será sempre colateral válido.
2) Os bancos gregos não se importam de abrir falência.
No primeiro caso é duvidoso que a Alemanha deixe a situação existir eternamente (assumindo que a Alemanha continuará interessada no Euro), mas a segunda é muito fácil de perceber porque já estamos habituados a ela. Os gestores do banco grego só têm de pensar o seguinte: “Se tudo correr bem eu ganho o diferencial entre as taxas de juro. Se tudo correr mal o estado Grego está insolvente, o que faria com que eu estivesse insolvente de qualquer das maneiras, logo não se tem nada a perder”. De uma forma eles ganham, da outra perdemos todos… o costume (de todo o cenário é fácil compreender porque é que o Estado devia estar longe destas coisas em vez de ser o “regulador” de uma aldrabice em que ele é o primeiro beneficiado). Enquanto isso, o BCE vai fornecendo armas a uns tipos desesperados.
segunda-feira, 29 de março de 2010
Fim de semana grego
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