segunda-feira, 16 de junho de 2008

Hino ao dinheiro

Esta é uma tradução livre de um artigo de Ayn Rand. Conhecida filósofa Russa do século XX e faz parte do seu trabalho Atlas Shrugged. A tradução foi feita por mim que não sou de forma algum especialista em tradução de obras literárias portanto aguentem-se ou leiam a versão original :)


Valor por valor

Então você pensa que o dinheiro é a origem de todos os males? Alguma vez pensou qual era a origem do dinheiro? O dinheiro é uma ferramenta de troca, que não pode existir a não ser que haja bens produzidos, e que hajam homens para os produzir. O dinheiro é a forma material do principio que os homens que pretendem lidar uns com os outros terão que o fazer através do comércio e trocar valor por valor. O dinheiro não é ferramenta para os preguiçosos que se apoderam dos seus produtos através das lágrimas ou dos conquistadores que se apoderam dele pela força. O dinheiro é apenas possível pelo esforço daqueles que produzem... é isso que considera maléfico?

Quando aceita dinheiro em troca do seu trabalho, fá-lo na convicção de que o poderá trocar pelos produtos que são o trabalho de outros. Não são os preguiçosos nem os conquistadores que dão valor ao dinheiro. Nem um oceano de lágrimas ou todas as armas do mundo poderão transformar esse papel na sua carteira em pão e manteiga que precisa para sobreviver amanhã. Esses bocados de papel, que deviam ser ouro, são um pedaço de honra - são o seu direito à energia e trabalho de homens que produzem. A sua carteira é a sua esperança de que algures no mundo que o rodeia há homens que cumprirão o principio moral da origem do dinheiro. É isso que considera maléfico?


A riqueza é o produto do pensamento humano

Alguma vez pensou na origem da produção? Observe um motor eléctico e ouse pensar que o seu esforço é o resultado de bestas musculares irracionais. Tente plantar uma semente de trigo sem o conhecimento deixado por gerações anteriores. Tente produzir comida apenas com movimentos físicos... aí descobrirá que é a mente do homem que é a origem de todos os bens produzidos e de toda a riqueza na Terra.

Mas você diz que o dinheiro é feito pelos fortes à custa dos fracos. Que força ? Não é a força das armas ou dos musculos. A riqueza é produzida pela capacidade de o homem pensar. É justo dizer que a riqueza do homem que inventou o motor foi feita à custa daqueles que não inventaram nada? É o dinheiro feito pelos inteligentes à custa dos estupidos? Ou pelos competentes à custa dos preguiçosos? O dinheiro é feito - antes de poder ser conquistado ou pedido - pelo esforço de todos os homens honestos, até ao limite da sua competência. Um homem honesto é aquele que sabe que não pode consumir mais do que produz.

Cada homem é dono do seu próprio raciocinio e trabalho

Fazer trocas através do dinheiro é o codigo de conduta dos homens de bem. O dinheiro jaz no axioma de que cada homem é dono do seu próprio trabalho e raciocinio. O dinheiro não permite que algum poder anule o valor do seu trabalho. O dinheiro permite-lhe obter do seu trabalho e dos seus bens aquilo que outros homens acham que valhe mas não mais do que isso. O dinheiro não permite mais nenhum acordo do que aqueles considerados justos entre dois homens de raciocinio livre. O dinheiro exige de si o reconhecimento de que os homens têm que trabalhar para o próprio beneficio - para o seu ganho próprio, não para seu prejuizo. O reconhecimento de que os outros homens não são burros de carga, de que tem de lhes oferecer valor e não ferimentos - que o que une os homens é a troca de bens e não a troca de violência entre mestre e escravo. O dinheiro impede que venda a sua fraqueza à estupidez dos homens e obriga-o a vender o seu talento à razão dos homens. Exige que compre, não o que tiver qualidade discutível mas o melhor que o seu dinheiro pode comprar. E quando os homens vivem através do comércio - com a razão e não a violência como árbitro - é o melhor produto que vence. É o homem de melhor pensamento e habilidade que vence e a sua recompensa é medida em produtividade. Este é o código de coexistência para quem usa o dinheiro como ferramente... é isto maléfico?

A escumalha que tenta inverter a ordem da causalidade

Mas o dinheiro é apenas uma ferramenta. É o meio para comprar o que desejar mas o dinheiro não lhe cria o desejo.

O dinheiro não compra felicidade a alguém que não sabe o que quer. O dinheiro não criará um código de valores se o homem não sabe o que tem valor. Não dará aos homens um objectivo se estes não sabem o que procurar. O dinheiro não comprará inteligência ao ignorante, admiração ao cobarde nem respeito aos incompetentes. O homem que tenta comprar a inteligência dos outros com dinheiro (tentando substituir inteligência por dinheiro) acaba por ser vitima dos que lhe são inferiores. Os homens de inteligência deixalo-ão e será rodeado por vigaristas que imporão a lei de que nenhum homem pode ser mais pequeno que a sua carteira. É por isto que acha o dinheiro maléfico?

O dinheiro não serve a mente medíocre

Apenas o homem que não precisa da riqueza é livre para a obter - o homem que faria a sua fortuna independetemente das sua origem como ser humano. Se um herdeiro é igual ao seu dinheiro este serve-o caso contrário destroi-o. Mas você olha e queixa-se que o denheiro corrompeu o herdeiro. Será? Ou foi ele que corrompeu o dinheiro? Não tenha inveja de um herdeiro - a riqueza dele não é a sua e você não teria feito melhor. Não pense que essa riqueza devia ter sido distribuida por outros: colocar 50 parasitas no mundo em vez de apenas um não traria vantagens a ninguém.

O dinheiro não serve mentes medíocres... é por isso que diz que o dinheiro é a origem do mal?

O dinheiro como meio de sobrevivência

O dinheiro é o seu meio de sobrevivência. O veredicto que pronuncia sobre o seu meio de sobrevivência é o veridicto que pronuncia sobre a sua própria vida. Se a origem é corrupta então toda a sua existência é corrupta. Conseguio o seu dinheiro através de fraude? Por apelar aos vícios dos homens ou à sua estupidez? Por lisonjear idiotas à espera de receber mais do que merece? Baixando o seu próprio nível de expectativas? Fazendo trabalho que despresa para patrões que detesta?

Se assim for então o seu dinheiro não lhe dará um momento de prazer. Todas as coisas que comprar não serão um tributo a si mas uma repreensão. Não o culminar de algo mas apenas vergonha. Então gritará que o dinheiro é mau. Mau porque não se preocupa com o seu amor-próprio? É por isto que acha que o dinheiro é mau?

O dinheiro é um efeito e você é a causa

O dinheiro será sempre um efeito e recusa-se a ser a causa que é o homem. O dinheiro é produto da virtude mas não dará ao seu portador virtude nem o curará dos seus vicios. É daqui que vem o seu ódio ao dinheiro?

Ou será que o que quer dizer é que é o amor ao dinheiro que é a raiz da mal? Porque amar alguém ou alguma coisa é conhecer e amar a sua natureza. Amar o dinheiro é saber e amar o facto de saber que o dinheiro é o produto do seu potencial e que é a forma de trocar o que de melhor faz pelo que de melhor faz o seu vizinho. O que grita mais alto contra o dinheiro é aquele que era capaz de vender a alma por um cêntimo. Os amantes do dinheiro estão dispostos a trabalhar por ele. Deixe-me dar-lhe esta regra simples: O que odeia o dinheiro obteve-o de forma desonesta enquanto que aquele que o ama trabalhou por ele.

O unico substituto para o padrão ouro é a ponta de uma arma

Fuja o mais rápido possível de quem lhe diz que o dinheiró é a origem do mal. A frase é sussurrada pelos salteadores. Enquanto os homens viverem juntos em harmonia e necessitarem da ajuda uns dos outros o unico substituto do dinheiro será a ponta de uma arma.

O dinheiro é o barómetro da sociedade

Mas o dinheiro requer de si virtude se o pretende ganhar ou manter. Homens sem coragem, orgulho ou amor-próprio - homens que não têm o sentido moral do dinheiro que lhes pertence e que não estão dispostos a defende-lo como defenderiam a sua vida, homens que pedem desculpas por serem ricos - não permanecerão ricos por muito tempo. São estes as vitimas naturais para os salteadores que se escondem debaixo de pedras durante séculos mas que surgem à primeira visão de um homem que que se sente culpado pela sua riqueza. Eles depressa se ocuparão de sarar a culpa destes homens - tal como merecem.

Então surgirão homens com visão dupla. Aqueles que vivem pela força mas no entanto esperam que os que vivem pelo comércio criem valor para eles. Andam à boleia da virtude dos outros. Numa sociedade moral estes serão criminosos e leis serão escritas para proteger os produtores desta gente. Mas quando a sociedade protege estes criminosos e salteadores de virtude alheia estes crêm que é correcto roubar de homens indefesos apenas porque há uma lei que os obrigou a entregar as armas. Mas o seu dinheiro atrairá outros criminosos que lhes ficarão com o dinheiro da mesma forma que eles ficaram com o seu e então começa a corrida e aí o dinheiro irá não para o melhor homem mas para aquele que for mais bruto e impiedoso... e a sociedade cairá em ruína.

Para saber se esse dia está a chegar olhe para o dinheiro - ele é o barómetro da virtude de uma sociedade. Quando reparar que o dinheiro troca de mãos não por consentimento par por compulsão - quando reparar que para produzir precisa de autorização de quem não produz nada - quando vir que o dinheiro vai para aqueles que negoceiam não produtos mas favores. Quando as leis não o protegem para protegerem que não produz - quando a corrupção é recompensada e a honestidade um sacrificio - reconhecerá que a sociedade em que vive está condenada. O ouro é nobre o suficiente que não compete com armas e não chega a termos com a brutalidade. Não permitirá que um país sobreviva como metade produtividade metade pilhagem.


O papel moeda [em oposição ao padrão ouro] é uma hipoteca sobre riqueza que não existe

Quando os destruidores surgem entre os homens começam sempre por destruir o padrão ouro pois é ele a protecção da riqueza do homem e a base da existência moral do dinheiro. Os destruidores confiscam o ouro e deixam falsificações de papel. Isto destroi todas as medidas objectivas de riqueza e deixa aos homens entregues ao comércio sobre valores arbitrários. O ouro é uma unidade de medida sobre a riqueza existente, o papel moeda é uma hipoteca sobre riqueza que ainda não existe suportada por armas apontadas aqueles que a terão que produzir. O papel moeda é um cheque passado pelos salteadores de uma conta que não é deles, à custa dos produtores da sociedade.

Quando corrompem os meios de sobrevivência não esperem que os homens se mantenham bons. Não esperem que os seus padrões de moralidade se mantenham intactos. Não esperem que aumentem a produção em tempos que a produção é desdenhada e o roubo incentivado.

E assim encontramo-nos no auge de produtividade de uma das maiores nações de sempre e mesmo assim perguntamo-nos porque parece tudo desmorenar à nossa volta enquanto você amaldiçoa o dinheiro. Durante toda a história do homem o dinheiro foi corrompido por salteadores que apenas mudaram de nome mas que mantiveram os métodos: confiscar a riqueza e manter os produtores reduzidos, difamados e deprivados de honra. Essa frase sobre o dinheiro que sai da sua boca descuidada vem de um tempo em que a riqueza era criada pelos escravos. Escravos que repetiam tarefas descobertas por alguém séculos antes e deixadas assim, sem melhorias ao longo do tempo. Enquanto a produção for governada pela força e a riqueza obtida pela conquista haverá pouco para conquistar. No entanto, durante todos estes séculos os homens exaltaram os conquistadores como os aristocratas da espada, os aristocratas de nascimento, os aristocratas do governo e desdenharam sempre dos escravos, dos comerciantes, dos lojistas e dos insdustrialistas.


O país do dinheiro

Para glória da humanidade houve pela primeira - e única - vez na sua história um país do dinheiro. E não há maior tributo que eu possa fazer à América pois isto significa: um país de justiça, de liberdade, de pensamento, de produção e concretização. Pela primeira vez o homem, a sua mente e o seu dinheiro foram postos em liberdade e a riqueza e fortuna foram conseguidas não por conquista mas pelo trabalho e em vez de escravos surgiram os verdadeiros criadores de riqueza, o grande trabalhador, o maior ser humano - o industrialista americano.

Se me perguntarem qual a maior distinção do povo Americano, escolheria - porque contém tudo o resto - o facto de que foram eles que inventam a expressão "fazer dinheiro". Nenhuma outra nação ou linguagem tinha usado esta combinação de palavras antes. Os homens sempre pensaram na riqueza como uma quantidade estática - para ser apreendida, herdada, pedida, partilhada, roubada ou obtida através de favores. Os americanos foram os primeiros a compreender que a riqueza tem de ser criada. A fraze "fazer dinheiro" contém a essência da moralidade.

No entanto, foi por essas palavras que os americanos foram denunciados como uma cultura podre pelos habitantes do continente dos salteadores. E agora os dizeres dos salteadores fazem com que os americanos encarem os seus maiores feitos com vergonha. Vêm a sua prosperidade com culpa, os seus industriais como guardas e as vossas fábricas como locais de trabalho para escravos em nada melhor do que as pirâmides egipcias. Aquele que não consegue destinguir o poder do ouro sobre o poder do chicote devia servir sobre ambos até descobrir a diferença.

Enquanto não redescobrirem que o dinheiro é a origem de todo o bem estão a pedir a vossa destruição. Quando o dinheiro deixa de ser a ferramenta pela qual os homens lidam uns com os outros então são os homens que se transformam em ferramentas. Sangue, chicotes e armas - ou ouro. A escolha é vossa e o tempo escasseia.



3 comentários:

Francisco Norega disse...

Li algumas partes e fiquei curioso para ler o resto. Obrigado pela tradução ;)

Unknown disse...

Nuno,

É bom ver este texto em portugês - obrigado pela tradução.

Queria apenas deixar uma nota de alerta. O texto original de onde traduziu isto foi alterado por quem o transcreveu para ter um enfoque especial no padrão-ouro. A única referência original está na expressão "which should really be gold" nos parágrafos iniciais. Por muito que concorde com a ideia do padrão-ouro (que concordo), essa parece-me uma atitude reprovável. Consiste em atribuir à autora palavras que ela não disse. Mais: passar o foco do texto original do dinheiro para o ouro acaba por ter um efeito negativo para leitores pouco familiarizados com questões monetárias, ao diluir em dois assuntos este discurso. No original, dinheiro é a essência e o ouro a substância; dinheiro é a semântica e o ouro a gramática; dinheiro é o significado e ouro o significante. Este discurso do Francisco d'Anconia é de facto sobre o significado do dinheiro - algo que de si já é difícil de transmitir a quem está habituado a ver o dinheiro negativamente - e não sobre o seu meio.

João Paulo Magalhães

manuel correia disse...

certíssimo.

mas, "Quando o dinheiro deixa de ser a ferramenta pela qual os homens lidam uns com os outros então são os homens que se transformam em ferramentas. Sangue, chicotes e armas - ou ouro"

parece-me claro,
que o dinheiro é a substituição actual dessas coisas.

ora, essas coisas só têm um propósito;

obrigar ao outro a fazer coisas,
ou seja, a escravizar o outro.

mesmo que com o dinheiro se possa transmitir essa força,
na prática, o primeiro uso do dinheiro é igual ao das armas,

porque quer se queira ou não,
o dinheiro é papel imprimido,

e a sugestão de que se pode fazer com ele o mesmo que fizeram connosco é uma ilusão,
porque inicialmente não houve trabalho que o gerasse,
ou seja,

os senhores são os que imprimem o dinheiro,
os escravos são os que o aceitam.

qual o mal da coisa?
que eu saiba, os escravos não são livres,
e sem liberdade não se ama...
e sem amor não existe o paraíso,

por isso é que dante diz;
"vocês que chegam percam todas as esperanças, estamos todos no inferno"
...

o bicho homem é o único que paga para viver!!!
o que evidencia uma grande racionalidade.
ha ha ha
pobres iludidos...