Então aqui vai um breve resumo do que eu entendi hoje da breve declaração do Primeiro Ministro e seu Ministro das Finanças:
1) O défice para 2010 está descontrolado. Para colocar a coisa novamente no caminho previsto vamos fazer uns jogos contabilisticos com a PT que garantem um encaixe superior a 2 mil milhões de euros. Vamos fazer de conta que não vai haver reformados na PT para não estragar as contas.
2) Dos cortes da despesa Teixeira dos Santos espera ganhar 3.4 mil milhões de euros. Dos aumentos dos impostos espera ganhar 1.7 mil milhões de euros. Ou seja, se as medidades de corte na despesa tivessem sido apresentadas em Julho de 2010 (o PEC II é de Maio) não seriam necessárias alterações do lado da receita (em 2011) para cuprir o objectivo a que o Governo se coloca.
3) Quando questionado sobre porque é que as medidas do lado da despesa não foram tomadas mais cedo, José Socrates responde “apenas agora estou convencido que são mesmo necessárias”. Uma avaliação (compulsiva) das capacidades mentais do chefe de Governo se calhar impõe-se dada a gravidade do discurso.
4) Isto é tudo mentiras e sonhos cor de rosa. Podia elaborar muitas razões para tal mas fica para um tópico posterior. Para já basta ver que ninguém se lembra quando é que foi a última vez que o ministro das finanças disse a verdade sobre o défice. Pelo menos este ano poupou-nos o triste espectáculo de revisões do défice mensais e optou pela contabilidade criativa com o negócio da PT.
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Orçamentos
Tiros no pé
Parece que os americanos decidiram ontem passar uma lei que permite descriminar entre importações de vários países. A medida, obviamente tomada contra a China, permite cobrar impostos alfandegários especiais sobre importações que venham de países que detêm uma “moeda subavaliada” no mercado cambial. Quem é que determina se a moeda está sub ou sobreavaliada ? Pormenores que não deviam interessar a ninguém, hoje é a China amanhã é quem lhes apetecer numa atitude claramente proteccionista do mercado interno.
Acontece que os americanos, do que consomem, produzem muito pouco e lá está, se querem continuar a consumir vão ter que continuar a importar da China que sempre fica mais barato que pagar os ordenados absurdos que por lá se pedem, a começar pelo governo e o seu ordenado mínimo. Resultado: sobem os preços no supermercado o que de certo não fará mal nenhum já que os americanos estão cheios de dinheiro para gastar. Ou então não…
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
O comité que não existe
Para variar um pouco hoje não vou dizer mal dos jornalistas. Vou aliás recomendar este artigo do Wall Street Journal, ignorando completamente como é que os jornalistas conseguiram algumas informações.
É uma leitura sobre todo o processo de "salvamento" da Grécia e os tecnocratas em Bruxelas.
De qualquer das formas, quando se faz um grupo secreto para salvar qualquer coisa é sempre melhor apostar contra o comité.
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Máximo (quase) histórico
A onça de prata esteve esta manhã cotada em 21,38 dólares, um valor sem precedentes nos últimos 30 anos, impulsionado pela procura dos investidores em investimentos de refúgio, à semelhança do que acontece com o ouro.
No intraday fez entretanto 21.45 o que deve obrigrar Robert Pretcher a rever toda a sua perspectiva para os metais preciosos e o bear market que não aparece.
Default
Está no Zero Hedge uma análise recomendável a um paper do FMI entitulado Default in Today's Advanced Economies: Unnecessary, Undesirable, and Unlikely.
Deixo apenas aqui a conclusão mas sugiro que sigam o link porque vale a pena ler, pelo menos, a refutação dos 3 pontos enunciados no título do paper.
Sovereign default depends on many factors – initial conditions, the country’s external environment, economic, social and political institutions and its policies. In the case of Greece, this set of circumstances suggests that default (by which we mean any restructuring with maturity lengthening or an NPV haircut) is not just a distinct possibility, but a high probability event. The size of the required adjustment needed just to stabilise the burden of public debt, the eventual size of the burden of interest payments and the lack of a strong social and political consensus on domestic burden sharing that might make the extreme fiscal austerity manageable, make it unlikely, in our view, that the Greek sovereign will only impose fiscal adjustment costs on its citizens. Instead, we expect that the country’s creditors will be invited to share the burden.
[...]
Nothing is absolutely certain in human affairs. It is possible that Greece succeeds in the economic, political and social transformations that would permit it to get out of its current predicament without a sovereign default. But in our view, the blanket statement that sovereign default in today’s AEs is unnecessary, undesirable, and unlikely represents the triumph of dogma over evidence and logic.
Sobe, sobe balão sobe
Uma imagem vale mil palavras:
E porquê este post? Porque andavam por aí aqueles senhores que dizem que são jornalistas a implicar que os juros tinham subido a semana passada porque os especuladores estavam todos curtos na dívida pública e que depois do leilão de quarta-feira os juros iam descer logo a seguir.
É verdade que alguns traders de curto prazo aproveitam as intervenções do BCE para ganhar algum dinheiro e que a altura dos leilões de dívida pública é propicia a estas coisas mas como se pode ver no gráfico a tendência é a mesma.
PS: Entretanto já batemos o record anterior. De certeza que haverá aí uns jornalistas a dizer que são boas notícias isto de bater records.
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Pedido de ajuda
Alguém me ajuda a esclarecer esta notícia?
Baseado no relatório do Banco de Portugal publicado ontem o "jornalista" chega à conclusão que a "dívida de Portugal ao exterior cai de forma histórica".
Ora sigam lá comigo este raciocínio comigo na página 2 do PDF linkado.
Dívida Externa Líquida aumentou de 144651 para 147928, ou seja, um aumento em 3.2 mil milhões de euros. Confusos com o título da notícia? Também eu. Analisando melhor os números parece que o que diminui em 3.6 mil milhões de euros foi a posição total de investimento em Portugal. Mas vamos ver melhor o quadro visto que este número é afectado por várias coisas, como por exemplo a valorização das nossas reservas de ouro em 2.8 mil milhões de euros. Quer dizer então que o investimento bruto reduziu em 6 mil milhões de euros certo?
Errado.
Vejamos a parte final do relatório que fala das posições dos investidores: Se não contarmos com as "Autoridades monetárias" (aka BCE) podemos ver que as posições caíram em 29 mil milhões de euros desde o trimestre anterior enquanto o BCE colocou à disposição 25.4 mil milhões (a diferença são os 3.6 mil milhões referidos no artigo).
Ora, alguém me explique uma de duas coisas:
1) Onde é que está a falhar a minha interpretação do quadro?
2) Como é que fugirem 29 mil milhões do país, ao ponto de forçar o BCE a intervir, se transformou numa notícia positiva?
Nota: Para quem quiser fazer as mesmas contas que eu, este XLS ajuda.
Previsões
Entusiasmado por ter acertado a minha previsão de negação da realidade deixo aqui mais algumas previsões dos comportamentos políticos para os próximos meses:
1) Enquanto Portugal andar entre os 6 e os 7 por cento multiplicam-se as afirmações que Portugal não precisa de ajuda externa (esta é fácil).
2) Entre os 7 e os 8 por cento os parceiros europeus e o FMI negarão qualquer ajuda a Portugal e total confiança no seu Governo para tomar "as medidas necessárias" mas claro, para acalmar os mercados, dirão "que no pior dos casos as instituições têm fundos mais que suficientes para resolver a situação". Os cidadãos alemães entretanto enervam-se com a perspectiva de pagar mais esbanjamento de terceiros.
3) A partir dos 8 por cento os tecnocratas podem aterrar a qualquer momento. Mas podemos estar descansados que "não seremos um protectorado alemão".
6.24
Foi quanto Portugal pagou hoje em leilão para se financiar a 10 anos. Mesmo assim, desistiu da ideia de pedir mil milhões e ficou-se por pedinchar apenas 750 milhões.
Não percebo porquê, afinal a crise de crédito soberano na Europa já acabou.
Aproveito para saudar a iniciativa de Zapatero liberalizar as drogas em Espanha. Quem sabe uma saída para a crise não vai passar por cobrar imposto sobre o que ele anda a consumir antes de dizer estas coisas.
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Agora sim
Fundo de emergência não espera pedido de ajuda de Portugal.
Cavaco Silva rejeita FMI.
FMI não prevê aterrar na Portela.
Agora sim, já me parece uma situação mais semelhante à da Grécia.
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Greece Reloaded
E agora, será que o FMI consegue aterrar na Portela ou precisamos de um aeroporto novo?
Em menos de 24 horas, que o fim de semana nestas coisas não conta, as taxas de juro passaram de 6.07 para 6.40.
Para ver com gráficos aqui.
Intermitente
Normalmente não sigo nem ligo a estas coisas da blogosfera, estou muito bem sossegadinho aqui no meu canto com a actual aparição n'O Insurgente. Mas por quem é achei por bem abrir uma excepção.
Assim informo os que ainda não sabem que o Miguel, ex-Insurgente, também tem agora um cantinho só seu chamado O Intermitente.
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
6.07
A última vez que vi este número, lá para meio de Janeiro se não me falha a memória, os ministros da grande Europa começaram a juntar-se todos para explicar como não era preciso salvar a Grécia.
A coisa correu tão bem que decidiram mudar de estratégia para o caso português: fazer de conta que não se passa nada a ver se a coisa pega. O spread entre a dívida portuguesa e alemã é hoje maior do que era o spread para a dívida grega em Janeiro.
A Irlanda, confesso para minha surpresa, não está melhor como tinha ontem indicado.
Tradonomics (20100917)
Conforme expliquei na caixa de comentários do post anterior a reacção aos 1130 pontos foi bastente feia e acho preferível fechar a posição de momento e analisar mais tarde. Apesar dos 1200 ainda não estarem descartados acho preferível vermos o progresso do mercado nos próximos dias antes de mais aventuras.
A saída da posição foi feita nos 1123 pontos.
Estado actual da carteira: Sem posições
Capital: 10.012 USD (+0.12%)
Disclaimer: Negociar futuros pode envolver perdas substanciais de capital, por vezes perdas superiores ao capital inicial. Esta mensagem tem apenas um fim educativo e não deve ser confundida com um conselho de investimento, o autor não se responsabiliza por qualquer tipo de perdas associadas com o conteúdo desta mensagem.
Intervenções
Nada que não tenha sido aqui falado 42 vezes anteriormente mas visto que as autoridades japonesas insistem em torrar dinheiro no mercado cambial para manipular a sua moeda convém lembrar o resultado habitual destas intervenções.
Em baixo fica um gráfico do EUR/CHF, para os mais distraídos as autoridades suíças já interviram, mais do que uma vez este ano, no mercado cambial para impedir a força do CHF.
Penso que o gráfico é elucidativo sobre os resultados da intervenção...
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Tradonomics
Tradonomics… é uma palavra que não existe como é natural, mas que acabou de ser inventada para descrever o meu próximo projecto que terá a duração aproximada de um ano. O objectivo é gerir uma pequena carteira virtual (apesar de ir replicar esta estratégia na minha carteira) de 10 mil USD durante um ano e ter um retorno real positivo (acima da inflação). Os trades serão normalmente sobre os índices americanos mas é algo que se verá com o decorrer dos 12 meses, a ideia é que sejam sempre com um risco controlado (2 a 3 por cento de risco em cada trade). A estratégia será de swing, ou seja, para prazos que podem ser desde 2 ou 3 dias até 2 ou 3 semanas dependendo do progresso do mercado.
Obviamente os trades serão todos colocados aqui no Inflaccionista para os leitores interessados poderem acompanhar. A ideia por detrás disto é obrigar-me a uma disciplina de trade e partilhar os resultados com os leitores. Se os resultados forem melhores que os esperados quem sabe não transformo o tradonomics em negócio. No pior dos casos, o de falhar redondamente, ao menos ficaremos com um registo de erros para posteriormente analisar e melhorar sobre eles o que nunca se perde.
Para já, na expectativa de ver o SP500 testar, e quem sabe quebrar, novamente os 1200 pontos faço o primeiro movimento da carteira. Compra de 4 contratos (CFDs para uma carteira deste tamanho) do SP500 a 1120 (valor de mercado) com um stop colocado nos 1060 pontos (risco total 2.4%).
Estes posts terão uma label própria para serem mais fáceis de encontrar.
Estado actual da carteira: Longo SP500 @ 1120.
Capital: 10.000 USD
Valorização: 0%
Disclaimer: Negociar futuros pode envolver perdas substanciais de capital, por vezes perdas superiores ao capital inicial. Esta mensagem tem apenas um fim educativo e não deve ser confundida com um conselho de investimento, o autor não se responsabiliza por qualquer tipo de perdas associadas com o conteúdo desta mensagem.
Lá vai ele
Outra coisa que aconteceu enquanto estava a passear foi obviamente o novo máximo histórico do ouro. Tinha alertado aqui em Julho que o suporte nos $1165 era vital para manter viva a esperança dos $1400 este ano e o gráfico em baixo mostra que esse nível não foi apenas importante, foi o ponto de inversão.
Liberty Camp
Pode ter passado desapercebido mas este mês houve um "liberty camp" no Porto onde se falou de coisas muito interessantes. Para minha completa surpresa e espanto até Ayn Rand foi tema de conversa.
À falta de melhor feedback encontrei apenas isto. Prometia muito mas parece que entregou pouco... o normal quando se mete o PSD ao barulho:
They’re the right-wing of Portugal, and they thought we’d understand that better by thinking of them as Republicans. In truth, most of them would be considered moderate Democrats in America. They are right-wing because the rest of the country is far left.
Actualização de spreads (X)
Se calhar devia remover a Grécia do mapa uma vez que aquela coisa só distorce a escala. Até parece que os outros estão bem ao pé daquela coisa verde.
De resto, a luta entre Portugal e Irlanda continua renhida...
Regresso de férias
Acabaram-se as férias, foram mais pequenas as minhas férias pessoais que as do blog que a crise a isso obriga (é desculpa para tudo). Chego descansado, com uma corzinha providenciada pelo sol e com um desalento motivado por Hayek e o seu Road to Serfdom, mas ficará para outras nupcias que isto dava um livro.
Por defeito do hotel, que tinha apenas 3 canais em inglês, e por defeito meu que nunca me consigo desligar completamente acabei por passar algumas horas em frente à televisão a ver um canal que não via há muitos meses: a CNBC. Fiquei a saber o que preocupa os media do outro lado do Atlântico: High Frequency Trading, o futuro dos Tax Cuts implementados ainda por Bush e o movimento Tea Party. Partilho principalmente da preocupação pelo movimento Tea Party que aparentemente ganhou mais uma primária em Delaware esta semana mas a minha preocupação é mais no sentido dos que entretanto se inflitraram no movimento. Por razões que desconheço Sara Palin é agora vista como líder do movimento, algo que realmente só pode preocupar.
Chegado a Portugal também fiz algo que não costumo fazer: comprei um jornal. Fiquei a saber que enquanto os deputados do PS continuam a atacar a revisão constitucional do PSD (ainda?) por esta atacar o "Estado Social" a ministra da cultura acabou por reconhecer que "a destruição do Estado Social está iminente" e pelos vistos nem sequer é só em Portugal. O braço de Passos Coelho chega longe. Também lá fora a UE decidiu festejar ontem os dois anos da falência da Lehman Brothers com mais regulação nos mercados financeiros, com particular incidência na dívida soberana... aquela coisa que faz com que o Estado ande a pagar quase 6% de juros para poder pagar ordenados aos funcionários públicos.
Para terminar uma notícia animadora para os que temem que o Islão lhes entre em casa via Turquia. Aparentemente a percentagem dos Turcos que defendem a entrada da Turquia na UE desceu de 74% em 2004 para 36% em 2010. Podem agradecer aos planeadores europeus conseguirem afugentar até os turcos que deviam estar habituados a este tipo de coisas. Quanto menos a UE se torna um mercado livre e mais uma união política não é de estranhar que as pessoas não queiram fazer parte dela. No entanto, por cá, continuamos a vender a liberdade em troca de uns subsidios. Tudo na mesma, as próximas férias terão de ser mais longas.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
Pensamento do dia
Tenho andado sem paciência para esta coisa dos blogs, talvez seja do Agosto quente. De qualquer das formas, e para não dizerem que não escrevo nada aqui ficam com esta frase interessante de Thomas Paine:
'Wearied with war, and tired with human butchery, they sat down to rest, and called it peace'
Thomas Paine, Rights of Man, 1792