Quem é “cliente” da casa sabe que é raro encontrar por aqui politiquices (não vão por aqui encontrar referências ao Freeport, aos casamentos homossexuais, ou qualquer outro entretenimento da nossa classe política). Tudo o que está arquivado neste blog sobre a etiqueta “Politica” refere-se a intervenções do Estado na Economia. Também é raro, embora o tenha feito antes, deixar por aqui grandes textos ideológicos. O blog acaba por ser apenas um sitio onde deixo várias notícias económicas, com a minha interpretação das mesmas, onde tento explicar porque chegámos a onde estamos, que razões nos trouxeram aqui e demonstrar porque é que as propostas que vamos ouvindo são, na sua grande maioria, um garante de uma depressão e não a forma de evitar a recessão. Pelos inúmeros e-mails que tenho recebido, alguns de apoio outros de ódio (confesso que os que me dão mais gozo são aqueles neutros, que não perceberam alguma ideia que tentei passar e que demonstram a curiosidade de aprender mais), penso que o papel do blog tem sido um sucesso e agradeço a todos os que têm feito alguma publicidade ao Inflaccionista e que têm permitido que o bom senso económico chegue a um maior número de pessoas no mundo lusófono.
Depois deste preludio resta-me então quebrar com a tradição, se bem que apenas por breves instantes, e aqui deixar a “minha” ideologia. Numa altura em que o Mundo civilizado caminha a passos largos para o Socialismo assumido, deixando para trás o Socialismo escondido próprio das economias “mistas” ficaria mal comigo mesmo se apenas fosse relatando os males do mundo sem os denunciar.
O titulo da crónica vem de uma breve discussão no sitio do costume em que mais uma vez se colocava os males da crise (e do Mundo) nos liberais ou neo-liberais. Não me identifico com o termo, até porque está denegrido até à exaustão e é difícil saber muito bem o que se entende por esse termo. Por exemplo duvido que até há bem pouco tempo o ex-CEO da Bear Stearns não fosse considerado um liberal apesar de abertamente se queixar de não ter sido salvo pelo Governo. É uma aberração ideológica e como não quero fazer parte rejeito essa “etiqueta” – declaro-me Capitalista. Não porque tenha muito capital mas porque acredito num sistema político capitalista guiado pelos princípios básicos da liberdade do Homem, do direito à propriedade privada e da não intervenção do Estado nos assuntos dos seus cidadãos. Reservo para o Estado apenas o papel de erradicar a violência da sociedade (ou seja, entrego ao Estado um monopólio sobre o uso da violência com a condição de que o Estado não possa iniciar o seu uso mas apenas responder a quem a tenha iniciado) e para isso basta-lhe 3 ramos:
1) Policia (para impedir a gatunagem).
2) Exército (para proteger a nação de ameaças externas).
3) Tribunais (para que Homens possam resolver as suas disputas sem recurso à força).
Estes poderes são delegados ao Estado para que ele nos possa proteger o nosso direito básico: Liberdade. Nenhum homem será verdadeiramente livre se estiver constantemente sobre ameaça física do seu vizinho. Ninguém melhora as suas terras ou fábricas se espera uma horda invasora capaz de destruir tudo por onde passa. Ninguém se pode comprometer a produzir bens se estiver dependente de contractos que não pode fazer cumprir.
Também o direito à propriedade privada (pilar fundamental do Capitalismo) é apenas um derivado do direito fundamental. O Homem só pode ser livre se for o único e total proprietário dos frutos do seu trabalho, tudo o resto é escravidão não interessa se o que o incentiva a entregar o fruto do seu trabalho é a força do chicote ou a ameaça de prisão e expropriação por um qualquer empregado da máquina fiscal – se alguém não tem direito ao fruto do seu trabalho então não é verdadeiramente livre. É por isso que uma economia mista tende sempre para o Socialismo, Comunismo, Fascismo ou qualquer outra espécie de controlo absoluto do Estado: porque não se pode viver “meio livre”. Não pode haver um misto de liberdade e escravidão e quando um ser racional admite que não faz mal entregar o produto do seu trabalho para o bem alheio então está a admitir que pode ser escravizado sem grandes consequências. Da “meia escravidão” à escravidão completa é apenas um pequeno passo ideológico por maior que possa parecer aos observadores contemporâneos.
Foi dito, nessa discussão que mencionei anteriormente, então que as culpas eram do liberalismo (e implicitamente do capitalismo) e que o que faz falta é regular. Por outras palavras, porque é isto que está implícito, a culpa da crise é da Liberdade e a resposta é Controlo. Já desmistifiquei nesta mesma “casa” várias vezes esse argumento mas vale a pena voltar a repetir os pontos chave:
1) O Capitalismo não pode ser culpado pela crise pela simples razão de que o Capitalismo está morto há mais de 100 anos. Quem tomou o seu lugar foi a dita “Economia Mista” popularmente reconhecida como a “3ª via” defendida por Tony Blair ou António Guterres. Seria como acusar D. Afonso Henriques do estado actual da Nação, é certo que o rapaz bateu na mãe e o país começou com um mau presságio, mas passados tantos anos que culpa pode ter ele do que se passa? Passado mais de um século depois da morte do Capitalismo (que aliás só viveu na América e nunca em Portugal) que sentido faz continuar a culpa-lo dos nossos problemas? Porque é que nunca ouvi um desses personagens da comunicação social a culpar a “Economia Mista” pelos males que vivemos? Porque não se chamam os bois pelos nomes?
2) Demonstrei em vários tópicos anteriores (e isto é até reconhecido por vários economistas “mainstream”) que os grandes responsáveis pela situação atingida no final de 2007 foram os Bancos Centrais e as suas politicas monetárias brandas para estimular e abrandar o rebentar da bolha tecnológica em 2001. O Banco Central é uma entidade patrocinada pelo Governo que detém um monopólio sobre a criação de dinheiro. Vamos ver bem o raciocínio: Governo cria o Banco Central. O Banco Central cria problema. E o que propõem para resolver o problema? Que o Governo crie mais instituições para resolver o problema que criaram. Einstein definiu a insanidade como “repetir sempre a mesma coisa esperando resultados diferentes” – é o hospício o local mais indicado para quem propõe estas medidas?
3) A manifestação da crise veio através do mercado imobiliário. É aqui que os críticos do “liberalismo” aparecem aos magotes apontando os dedos à banca “privada” (fica entre aspas porque recentemente vi nas noticias que os Espanhóis sondaram o Governo Português para saber se podiam comprar o BCP… estranha forma de propriedade privada esta que sonda o Estado antes dos “proprietários”). Ignoram (ou fazem de conta ignorar) que mais 70% das hipotecas (medido em dólares e não em números de casas) estavam nas mãos ou eram asseguradas por companhias como a Fannie, Freddie e FHA – tudo empresas criadas pelo Estado. É este o resultado da “3ª via”, morre nas suas próprias contradições. O Estado sobrepôs-se ao mercado e quando falha queixa-se que o mercado não funcionou. Amordaça o responsável pela sua prosperidade e quando vem a desgraça indigna-se de ele não se ter solto e feito alguma coisa. Seria uma tragicomédia não fosse somente a realidade.
Surgiu ainda na discussão que o “liberalismo moderno” devia assentar-se nos ideias da revolução francesa: liberdade, igualdade e fraternidade. É este o produto do nosso sistema de ensino publico, o contra-senso das suas palavras nem sequer lhe são evidentes, ele quer mesmo dizer aquilo que disse. Igualdade em quê? Fraternidade entre quem?
Somos todos iguais? Se somos iguais porque não produzimos todos muito? Porque uns produzem mais do que outros? Porque precisamos de Edison para inventar a lâmpada quando tantos homens viveram antes dele? E se não somos iguais porque devemos tratar de igual forma um génio e um imbecil? Porque devem ser vistos à mesma luz um industrial e um calão? Os homens são seres únicos, cada um com mais valias diferentes do seu vizinho e é da diversidade que nasce o desejo de cooperar. Só há uma forma de igualarmos todos os homens entre si: reduzirmo-nos todos ao mínimo denominador comum, sermos todos equiparados ao mais incapaz, ao mais ignorante de todos os homens e imaginem que efeitos teria esta política em homens como Edison, Marconi ou Einstein. O que teríamos todos nós perdido se forçássemos estes homens a viver reduzidos à pequenez dos que os rodeavam?
A “fraternidade” é alusiva a “amar o próximo como se fosse nosso irmão”. Porque quereríamos fazer isto eu não sei nem ninguém me explica. Devo amar Stalin como se fosse meu irmão? E Hitler? E Einsten? Se são todos meus irmãos devo guardar um espaço no meu coração para todos eles? Se o meu vizinho é meu irmão e não lhe apetece trabalhar devo eu dar-lhe parte do meu rendimento para que a família não fique reduzida? É preciso olhar para além das palavras, a fraternidade não tem nada a ver com o espírito de cooperação entre homens mas sim de sacrifício. Que nos devemos sacrificar para o bem de outros, que devemos deixar a nossa felicidade suspensa para que outros possam ter alguma. O que acontece quando a felicidade de Stalin só for satisfeita com a minha escravidão? Devo acorrentar-me para o meu irmão? Ninguém me explica.
E então que liberdade é essa que a revolução proclamava? A liberdade de me entregar à felicidade alheia? A liberdade de ser reduzido ao mínimo denominador comum? Alguém se admira que o resultado da revolução tenha sido o governo de Napoleão?
Comparemos esses princípios franceses com os princípios da independência norte-americana: “Cada homem tem certos direitos inalienáveis como a vida, liberdade e a busca da felicidade”. Atentemos bem nas palavras de Jefferson. O homem tem direito apenas à “busca da felicidade” se a encontra ou não é algo que apenas pode ser ditado pelas suas acções. Imaginemos que cada um de nós tinha direito à felicidade independentemente das nossas acções, se a minha felicidade dependesse de passar o dia na praia e comer marisco todas as noites alguém teria de se sacrificar para me proporcionar este estilo de vida. Seria inconsistente com os dois primeiros princípios: Vida e Liberdade.
Porque a vida não foi feita para agradarmos aos outros e porque não há liberdade na servidão. Os pais fundadores da América bem sabiam do que se defendiam depois de tantos anos sob o poder de um império comandado à distância de um Oceano. O Governo foi feito para proteger as pessoas da violência de criminosos e exércitos estrangeiros e a Constituição foi escrita para proteger os cidadãos da violência do Governo. Vale a pena pensar nisto e comparar com outras democracias em que manda a lei do mais forte, onde 51% da população pode escravizar os outros 49% apenas porque são a maioria. Democracias actuais onde finalmente alguns perceberam que podem votar para si os proveitos dos cofres públicos, apenas para isso precisam de convencer uma parte significante da população que é do seu interesse ou que também terão direito a uma parte dos cofres. Democracias que nada mais são que a ditadura da maioria, em que as pessoas são avaliadas não pelas suas capacidades mas pelo tamanho do seu grupo, do seu sindicato, da sua ordem profissional, da sua empresa…
Na constituição Portuguesa, por exemplo, a saúde é um direito inalienável. Depois forma-se uma coisa chamada “Ordem dos Médicos” e cria-se um cartel chamado “Associação Nacional de Farmácias” e a partir daqui basta apenas que estas duas organizações cresçam em números suficientes para votarem para si os privilégios que quiserem e visto que a saúde é algo que todos têm direito (quer façam alguma coisa por isso ou não) alguém vai ter de sustentar todos estes custos inerentes. E se suportar esses custos for um peso tão grande que torna a nossa vida infeliz? Se nos mergulhar numa carga de trabalho reminiscente da idade média? Se nos fizer conviver com uma carga tributária apenas comparável a um assalto à mão armada? Então esse é o custo da democracia e dos direitos inalienáveis que o Estado decidiu decretar, saúde, educação, sustento (não é algo para o qual temos que trabalhar, é um direito) ou o que mais lhes vier à cabeça. A vida, a liberdade e a busca da felicidade são vitimas fáceis quando se trata de tão nobres direitos como os da nossa constituição.
Para concluir queria apenas partilhar a minha convicção profunda de que o sistema político actual está a chegar ao fim. Apesar de transmitirem ignorância na sua escolha de palavras a elite mundial sabe muito bem o que diz e sabe fazer a análise do que se passou tão bem, até melhor, do que eu. Estamos agora num caminho claro para um sistema político onde a maior parte das decisões passarão por um órgão central que só poderá degenerar em Socialismo, Comunismo ou Fascismo. Pensem no que isto implica para cada um de nós, esclareçam quem genuinamente acha que entregar um pouco mais de poder sobre as nossas vidas não faz mal nenhum e até pode ajudar e partilhem a mensagem. Entre a Liberdade e a escravidão, a hora da escolha aproxima-se.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Sou capitalista
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