sexta-feira, 25 de março de 2011

Começar do zero

Após uma paragem no blog devido a questões de saúde há que reiniciar a activade. A queda do Governo e o FMI parecem-me um bom tema:

Le roi est mort. Vive le roi.

Caiu Sócrates e (presumivelmente) levanta-se Coelho. O país e. mais importante, quem cá vive continuará de rastos. O PSD afinal de contas está preparado para viabilizar o PEC que chumbou. Está preparado para aumentar impostos que rejeitou. Está preparado para chamar o FMI para poder dividir o custo político. Está enfim preparado para governar porque como fica claro nos últimos dias o PSD nunca teve nenhum problema com esta forma de governar mas apenas com o personagem que governava. Afinal de contas vamos a votos por uma questão pessoal e Passos Coelho consegue desiludir todos aqueles que diziam que se chegasse a primeiro-ministro abandonaria qualquer ideia liberal que tivesse, o homem conseguiu abandona-las antes disso.

Tirada que está do caminho a questão política (ou a questão pessoal de quem lidera o rebanho de ovelhas até ao altar) será melhor focarmo-nos no que vai acontecer às nossas vidas. O FMI vem a caminho para nos emprestar dinheiro, não que vá alguém fazer alguma coisa de jeito com esse dinheiro mas sim para que o Estado possa pagar a uma quantidade de idiotas que foram estúpidos o suficiente para nos emprestar dinheiro. Mais tarde obviamente teremos de pagar ao FMI mas este não será tão idiota como os primeiros que nos emprestaram dinheiro e imporá condições no empréstimo que garantam alguma probabilidade que este seja pago. Ora como é fácil de prever isto implica obviamente um corte no peso do Estado (viva o FMI) e um aumento da carga fiscal que o Bloco Central está demasiado ansioso para colocar em prática (abaixo o FMI) isto porque a dívida não se paga quando se chega a um valor mágico do défice de 3% mas sim quando se consegue ter um superavit, coisa que nem Sócrates nem Coelho planeiam ter. É preciso lembrar que a ideia de austeridade destes senhores é endividarem-se a um ritmo de 1.2 milhões de euros por hora.

Vamos então passar por um período que promete mais desemprego e menos rendimento disponível para que os anteriormente mencionados idiotas possam receber o seu dinheiro de volta. Sócrates diz que tem de ser porque “não somos caloteiros” (qualquer entidade que tenha pagamentos em atraso do Estado é pura coincidência) enquanto que Coelho fala em “honrar os compromissos” que é uma coisa muito bonita mas outro caminho é possível: tratamento de choque.

O país não precisa do FMI, o país precisa de acordar para a realidade, assumir que se endividou demais e honestamente dizer aos idiotas credores que não pode pagar o que prometeu. Obviamente Portugal será arredado dos mercados de dívida durante algum tempo mas se alguma vez houve algo que podesse ser chamado de “estabelizador automático” então esse algo é exactamente sair do mercado de dívida, garantirá com toda a certeza que se acabam os défices.

Haverá mais desemprego como no caso do FMI? Certamente mas os impostos esses poderão baixar e aqueles que forem cobrados podem ser utilizados a bem daqueles que cá vivem (como por exemplo financiar uma descontinuação da SS que irá à falência ao mesmo tempo que o Estado) e eventualmente, se o Estado não interferir, com o ajuste em baixa dos ordenados a situação do desemprego acabará por se resolver a si mesma. Mais importante, o pouco que produzirmos será nosso e não dos idiotas credores que não souberam fazer o trabalho de casa antes de enterrarem o seu dinheiro numa nação tão mal governada.

Portugal não precisa de ajuda. Portugal precisa de começar de novo.

3 comentários:

Unknown disse...

Artigo muito bom.
Gostei em abundância do último parágrafo.
As melhoras.
R.

Nuno Branco disse...

Obrigado, já estou a 95% :)

Unknown disse...

O seu Blog é o máximo. Gosto bastante das suas analises. Abraço e melhoras de saúde.