Ultimamente tenho dado por mim em várias discussões com colegas e amigos onde surge sempre um tema recorrente: os donos dos ginásios portugueses são uns porcos capitalistas. Porquê? Porque o governo baixou o IVA para 5% mas os preços dos ginásios não desceram. Este tema voltou a surgir agora em formato electrónico n’O Insurgente de maneira que está na hora de mais um serviço público gratuito (infelizmente parece faltar-me o gene capitalista - vejam lá se fazem umas doações de vez em quando aqui ao vosso comuna de serviço).
Pontos de partida:
1. O preço nominal do ginásio não aumentou.
2. O preço real do ginásio desceu (devido à inflação)
3. A função de um empreendedor é maximizar o lucro (o horror!)
Penso que os primeiros dois pontos são consensuais e particularmente o segundo demonstra que houve de facto um beneficio directo ao consumidor. Quanto ao ponto três eu sei que muita gente gosta de criticar os empreendedores/capitalistas por isso mas é só quando são os outros. Qualquer cidadão comum quando vai a uma entrevista de emprego para vender o seu trabalho parte exactamente do mesmo principio de tentar maximizar o valor pelo qual vai vender esse serviço e, tal como os donos do ginásio, esse valor não depende exclusivamente da sua vontade mas sim do valor que o consumidor (neste caso o empregador) dá ao produto em causa (neste caso, o trabalho). É tão simples e natural como ter uma barra de chocolate para vender e quando temos dois tipos, um que dá 5€ por ela e outro que dá 6€ nós vendemos sempre ao que dá 6€. Infelizmente, quando a barra de chocolate não é nossa em vez de simplesmente aceitarmos a lógica vamos chorar a uma qualquer teta estatal porque gostamos muito de chocolate mas os outros são muito maus e não nos deixam provar.
Quando estamos do lado do consumidor todos nós temos uma noção de valor das coisas. Esse valor não é obviamente igual para todos. Imaginemos três individuos que gostavam (entre outras coisas que podiam fazer com o seu dinheiro) de ir ao ginásio. O individuo A atribui a esse prazer um valor de 50€, o B de 70€ e o C de 90€ assim se constrói uma básica linha de procura. O personagem Z neste exemplo investiu o seu capital no ginásio e espera obviamente (não é um ginásio publico) retirar lucro do capital investido (se não esperasse tinha aberto um depósito à ordem em vez de construir um ginásio). Estudando a concorrência existente ou através de tentativa e erro chega à conclusão de que uma mensalidade de 60€ lhe permite maximizar o seu lucro. Isto faz com que B e C desfrutem do ginásio e com que A vá gastar o seu dinheiro a outro lado pois para si o ginásio é caro demais.
Estamos todos contentes. Porquê?
1. A gasta os seus 50€ em algo que lhe convém mais do que gastar 60€ num ginásio.
2. B e C têm um serviço que acham barato.
3. Z tem retorno do seu capital.
Até agora tudo bem. Depois vem o Estado e baixa o IVA… deve Z baixar o preço? Lembremo-nos que o seu intuito é maximizar o lucro. Digamos que esta baixa do IVA permitia baixar o preço de subscrição do ginásio em 10%, ou seja 6€, o que colocaria o novo preço em 54€. Ora este preço faz com que Z receba menos 12€ no total (6 de B e 6 de C). Por outro lado 54€ por mês continua a ser demasiado caro para convencer A aderir ao serviço, numa perspectiva de negócio é um erro descer o preço do ginásio (não maximiza o lucro).
Imaginemos o cenário contrário em que o governo implementava um novo imposto de 12€ sobre a utilização dos ginásios. Neste caso a solução óptima é não passar o custo total ao consumidor final (uma vez que B abandonaria o ginásio) e absorver parte destes custos. Ou seja, neste caso específico, aumentar apenas 10€ para reter ambos os clientes e ter uma rentabilidade final maior.
Claro que Z não tem poderes psíquicos, não sabe a escala de valores de todos os seus potenciais clientes e como tal vai tentando (dentro da sua margem) aproximar-se da vontade dos consumidores. Ele sabe que tem sucesso quando tem uma boa taxa de ocupação do seu ginásio. Ora imaginemos então que Z é um gestor de sucesso e tem um bom ginásio com bom lucro e boa taxa de ocupação sem nenhuma intenção de alterar isto mas apenas de manter os seus clientes actuais contentes. Vem o governo e baixa o IVA, Z tem duas opções:
1. Mantém o preço sabendo que não vai haver mudanças na procura do serviço que presta e maximizando o seu lucro.
2. Dedica-se à pesca.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Ginásios e IVA
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3 comentários:
Ora imaginemos então que Z é um gestor de sucesso e tem um bom ginásio com bom lucro e boa taxa de ocupação sem nenhuma intenção de alterar isto mas apenas de manter os seus clientes actuais contentes. Vem o governo e baixa o IVA, Z tem duas opções:
1. Mantém o preço sabendo que não vai haver mudanças na procura do serviço que presta e maximizando o seu lucro.
2. Dedica-se à pesca.
Mas se começar a ter menos clientela porque aparece o sujeito X que abre um ginásio que faz mais barato devido à baixa do IVA ou porque a Malhoa começa a malhar lá. A clientela começa a mudar-se para lá,o gajo simplesmente pega na cana de pesca?
Grande capitalista que me saiu esse gajo.
Nesse caso a descida do IVA acaba por se reflectir nos preços... o que não consta do argumentário de quem acha que os ginásios sejam maus e tendo sido excluido da análise por isso.
Sinceramente não frequento ginásios e não faço ideia do aconteceu a quem os frequenta nem costumo discutir preços de ginasios com amigos meus que frequentem.
Se foi mesmo verdade que os ginásios não baixaram minimamente os preços, acho que os clientes tem direito à indignação.
Trata-se de uma situação que não se enquadra exactamente no exemplo.
Pelo exemplo dado,parece-me que o Z nem se portou mal,retirou os 20% adicionou 3% de inflação e adicionou 5% de IVA.
O sujeito tem direito à vida e seus funcionários devem ter levado aumentos e fornecedores aumentado os preços pelos seus serviços.
Não será por isso que deixarei de correr ao parque da cidade e no fim atacar uma preta(cerveja).
Fiquem bem
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