terça-feira, 14 de outubro de 2008

Editorial do Metro

O jornal Metro é normalmente a minha leitura matinal enquanto me desloco para o trabalho e a forma como me vou mantendo a par do país normalmente (e a TSF, para televisão vou tendo pouca paciência). Infelizmente o jornal nem sempre é correcto e há alguns editoriais que me parecem sempre um pouco estranhos, fica o meu comentário ao de hoje.

O editorial de hoje apresenta-nos primeiro uma inverdade ao afirmar “Quando se deu o grande crash de 1929 o governo americano demorou três anos a intervir na economia”. Isto é falso porque o governo interveio muito rapidamente. Entre outras acções aumentou os impostos e as tarifas alfandegárias sufocando o mercado livre e dando um tiro no pé pois obviamente os outros países ripostaram na mesma moeda e os EUA foram incapazes de exportar os seus produtos competitivamente. A própria reserva federam agiu em 1929 tentando colocar “água na fervura” dos mercados e contraindo o crédito que foi aliás a razão que precipitou o crash bolsista quando quem negociava em margem teve que liquidar as posições fosse a que preço fosse. Os máximos bolsistas de 1929 apenas foram ultrapassados 25 anos depois… é bom lembrar nesta altura em que as pessoas tendem a agarrar-se às suas acções dizendo que é um investimento para o longo prazo… é que pode ser mesmo longo.

Perante todas estas medidas tomadas pelo Governo dos EUA na altura não se pode criticar em nada a mão invisível. Esta serve para regular os mercados, não pode infelizmente esbofetear os governantes nem em 1929 nem em 2008 e portanto teremos que viver com o que temos. É também importante notar que se criticamos as medidas tomadas em 1929 não quer automaticamente dizer que tomar as medidas exactamente contrárias funcione (neste caso baixar os impostos e aumentar a liquidez)… não há garantias que funcionem estas medidas e enquanto não deixarmos o mercado ir até onde tem de ir apenas prolongaremos os nossos males.

Mas o mais grave do artigo está certamente no ultimo paragrafo, dando a entender aos leitores que o que nos vai salvar desta trapalhada é o consumo. Se não for dos indivíduos ou empresas privadas então terá de vir do estado (parece que o estado é capaz de tudo, uma nova religião para o século XXI) o autor não explica de onde virá o dinheiro do estado para consumir, presumo que não queira aumentar os impostos durante uma recessão o que nos deixaria apenas com a hipótese de aumentar a dívida pública. Pretende o editor combater o problema do crédito excessivo do privado com crédito excessivo pelo sector publico como se fosse algo diferente… não o é e teremos todos que o pagar mais tarde ou mais cedo (ou seguirmos o caminho da Islândia).

Apenas posso presumir que o editor está a pedir para a Europa um “New Deal” semelhante ao de 1933 protagonizado por Franklin D. Roosevelt. É importante saber como é que FDR financiou o seu “negócio”. Primeiro roubou compulsivamente todos os cidadãos americanos da sua posse de ouro, de seguida utilizou esse ouro para vários projectos públicos a maior parte dos quais nos assombram hoje com a sua capacidade de gastar dinheiro exponencialmente (a segurança social, a Fannie Mae e a Freddie Mac são apenas algumas das instituições criadas por FDR) e no fim quando o ouro já não chegava decidiu inflar artificialmente o preço do ouro dos $20 para os $35 destruindo assim em mais de 60% o poder de compra dos dólares americanos que ele tinha dado aos cidadãos em troca do ouro que os obrigou a entregar (e os proibiu de usar para negociar entre si).

É bom que percebamos que o Estado não é omnipotente. Se pode efectivamente criar dinheiro (hoje em dia é só adicionar números no computador do banco, nem é preciso imprimir as notas) não pode através desse feito criar riqueza, esta só pode ser criada através do trabalho de cada um. Não é por o Estado imprimir notas que as batatas nascem sozinhas na terra ou os carros surgem em Palmela feitos como por magia – repito, a riqueza real só é criada através do trabalho dos homens, não há milagres e temos que ter isso em conta quando rezamos ao Estado para nos dar uma solução.

Eu atreveria-me a sugerir que um problema de crédito excessivo só conseguirá ser ultrapassado quando se conseguir ter um nível de poupança suficiente. Sugiro aliás que um sistema capitalista necessita de capital (e não de promessas de capital futuro) para funcionar… mas com presidentes de bancos a dizerem-nos que uma “dívida é poupança futura” já acredito em tudo, até que um qualquer Primeiro Ministro por esse globo fora possa ser Jesus reincarnado.

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